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Como o setor de aquisição pode contribuir para a inovação?

Publicado em 24/02/2022
A razão pela qual o setor de aquisição (procurement) deve se envolver com inovação é simples: a maioria das inovações hoje em dia vem de fornecedores

Artigo | Por Thomas E. Johnsen *


Foto: Shutterstock

A ideia de que procurement deve desempenhar um papel fundamental nos projetos de inovação está ganhando força. Os últimos dois anos forçaram os setores de compras a priorizar a resolução de problemas ligados a interrupções abruptas no fornecimento. Mas os diretores de produtos continuam a classificar a contribuição da inovação como as maiores prioridades – embora 39% das organizações de compras raramente estejam envolvidas em inovação, apesar da maioria das inovações serem provenientes de terceiros comerciais (pesquisa Deloitte Global CPO, 2021).

As competências exclusivas de aquisição permitem não apenas que ela se abasteça efetivamente de fornecedores inovadores, o que a P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) também pode fazer, mas também avaliar esses fornecedores em relação às exigências de fornecimento: os fornecedores potenciais terão um desempenho operacional, bem como tecnológico? A aquisição pode ajudar a prevenir gargalos e, assim, reduzir os riscos de rupturas na cadeia de suprimentos que estão atormentando as empresas na atual crise da cadeia de suprimentos. Isso se aplica a quaisquer novos fornecedores, incluindo startups.

A razão pela qual o setor de aquisição (procurement) deve se envolver com inovação é simples: a maioria das inovações hoje em dia vem de fornecedores. Os departamentos de P&D ou engenharia podem naturalmente estar comandando projetos de inovação tecnológica, mas raramente têm o conhecimento dos mercados de fornecimento do qual o setor de compras pode se gabar.

FONTES DE INOVAÇÃO

Poucas empresas contêm todos os recursos e conhecimentos necessários para a inovação interna, portanto, dependem de fontes externas de inovação. Por isso, buscar inovações junto aos fornecedores não é uma ideia nova.

Entretanto, como as empresas estão em transição para novas gerações de tecnologias e produtos sustentáveis e ecológicos, as fontes de inovação estão mudando. Onde os parceiros de fornecimento existentes costumavam ser a principal fonte de inovação, as empresas estão agora tendo que procurar mais longe os potenciais fornecedores de fora de suas redes de fornecimento existentes. As fronteiras tradicionais da indústria estão se tornando difusas, portanto é necessário caçar inovações tanto de fornecedores existentes como de novos fornecedores desconhecidos.

Meus colegas e eu dedicamos grande parte de nossas pesquisas recentes a esse tema. O centro Audencia AXYS (ou "chaire") de Procurement & Digital Innovation está atualmente pesquisando o uso de tecnologias digitais para buscar inovações. Nosso grupo de interesse especial IPSERA (International Purchasing & Supply Education & Research Association) em Compras e Inovação é um ponto focal para pesquisadores acadêmicos e profissionais da área, e o Projeto PERISCOPE1, financiado pela UE Erasmus+, explora novas habilidades e competências para aquisições inovadoras e sustentáveis.

Além de novas formas de inovações em compras, os temas atuais incluem o papel das compras em facilitar a absorção do conhecimento do fornecedor (Picaud et al, 2019) e a necessidade da ambidestria do setor de compras para gerenciar as tensões que surgem quando as compras devem equilibrar prioridades fundamentalmente conflitantes (isto é, economia de custos versus inovação) (Constant et al, 2020).

CONTRIBUIÇÃO DAS COMPRAS PARA A INOVAÇÃO: NECESSIDADE DE NOVOS PROCESSOS

O que está ficando claro é que o desafio da inovação exige novas formas de trabalho em aquisições. Como ilustrado na Figura 1, o envolvimento efetivo das compras em projetos de inovação de produtos está intimamente ligado à inovação no processo de compras: as compras não podem contribuir para inovações de produtos a menos que desenvolvam novas formas de trabalho.


Figura 1: Interligação das inovações de produto e inovações de processo

A estrutura abaixo se baseia em cinco processos gerais com cada um deles dividido em tarefas ou papéis específicos. Este é um processo contínuo baseado no desenvolvimento contínuo da capacidade de inovação da aquisição. A estrutura é mostrada aqui em sua versão básica e brevemente explicada abaixo.


Figura 2: Uma estrutura para o envolvimento das compras na inovação

  • Escotismo da inovação: Procurement (aquisição) pode desempenhar um papel importante no innovation scouting, desenvolvendo a inteligência do mercado de suprimentos, por exemplo, organizando dias de inovação de fornecedores ou workshops. Novas ferramentas digitais, tais como inteligência artificial e plataformas abertas de inovação podem facilitar o innovation scouting.
  • Gerenciamento da interface do fornecedor: Procurement (aquisição) pode atuar como uma ponte entre P&D e fornecedores inovadores, garantindo tanto um foco comercial quanto operacional nas interações com potenciais fornecedores. Onde a P&D pode ser responsável pelas interações tecnológicas, a aquisição pode atuar como um gatekeeper operacional e comercial, bem como promover relacionamentos de colaboração com fornecedores.
  • Reorganizando a aquisição: Nossa pesquisa mostra como algumas empresas reorganizaram as compras (procurement), por exemplo, criando uma unidade de compras dedicada à inovação que funciona junto com as compras operacionais. Essa é uma forma de desenvolver uma organização de compras ambidestra, e outra solução poderia ser empregar compradores inovadores para assumir a liderança em compras inovadoras.
  • Desenvolvimento de habilidades e competências: As competências tradicionais de compras (procurement) são insuficientes para que as compras desempenhem efetivamente uma função de inovação. As descobertas iniciais do PERISCOPE destacam, por exemplo, criatividade e curiosidade, trabalho em equipe multifuncional, pensamento crítico, liderança e comunicação, e pensamento estratégico. A análise das pesquisas atuais está em andamento.


COMENTÁRIOS FINAIS

Há muito trabalho em andamento sobre compras e inovação e este pequeno artigo apresenta alguns dos temas principais. O autor ficará feliz em ouvir os leitores interessados neste tema.

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* Thomas E. Johnsen é professor de Procurement & Supply Management na Audencia Business School, França.

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