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Novos motoristas: os desafios para a entrada de condutores jovens na logística

Publicado em 21/12/2023

Não basta criar condições para que os novos caminhoneiros sejam acolhidos, reconhecidos e trafeguem com qualidade e segurança pelas estradas brasileiras, é fundamental se quisermos, de fato, enfrentar o desafio da escassez da mão de obra

Por Redação

Não basta criar condições para que os novos caminhoneiros sejam acolhidos, reconhecidos e trafeguem com qualidade e segurança pelas estradas brasileiras, é fundamental se quisermos, de fato, enfrentar o desafio da escassez da mão de obra.
 Há uma atração na carreira de motorista que ainda desperta o interesse daqueles que estão começando uma trajetória profissional (Foto: Freepik)

A escassez de motoristas no Brasil é um dos principais desafios para o contexto logístico brasileiro e o tema já foi pauta de um dos artigos da campanha "Estradas do Futuro". Segundo dados do Denatran, por exemplo, o setor de cargas enfrenta uma baixa de quase 1 milhão de motoristas, enquanto o número de condutores com carteiras habilitadas nas categorias D e E apresentou baixa de 18% entre 2021 e 2023.

Um dos caminhos mais efetivos para a superação dessa problemática que afeta também outras regiões do mundo se dá por meio da formação e de investimentos na carreira de jovens caminhoneiros que estão iniciando suas trajetórias nas estradas do país.

E esse processo se constrói a partir de diferentes estratégias que incluem esforços não só das empresas, mas também dos governos, como:

  • Remuneração atrativa;
  • Suporte para o profissional, sobretudo diante dos obstáculos comuns ao começo de uma carreira;
  • Boas condições de infraestrutura no país e ampliação da oferta de Pontos de Parada e Descanso;
  • Investimentos em segurança nas rodovias e maior padronização da qualidade da malha viária nacional.

Outro ponto importante é ouvir os motoristas: quais são seus anseios, dificuldades e o que pode ser melhorado no ambiente logístico brasileiro.

Pensando nisso, conversamos com Juscelino Andrade dos Santos, caminhoneiro autônomo de 26 anos que já trabalhou em diferentes regiões do país, como o Triângulo Mineiro, Goiás e na distribuição de safras de milho do Mato Grosso.

Confiram!

POR QUE DECIDIU SER CAMINHONEIRO?

Assim como as motoristas Larissa de Souza e Janete Fogaça, também entrevistadas, Juscelino foi movido por um sonho quando decidiu arrendar o caminhão de um amigo e iniciar, há 5 anos, sua carreira como caminhoneiro pelo Brasil.

"Sempre tive o sonho de conhecer o Brasil, diferentes regiões do país dirigindo. E esse lado da profissão é muito bonito: quando você está trabalhando, conhece muitas pessoas, muitas histórias e nas estradas, todo mundo tem um sonho que divide com a gente. A oportunidade surgiu para mim quando um amigo comprou um caminhão e perguntou se eu não queria trabalhar para ele, por meio de um contrato de arrendamento. Eu abracei essa oportunidade e, com todos os obstáculos, foi bom para mim. Tirei a carteira de motorista já em busca de ser caminhoneiro", revela Juscelino dos Santos.

O motorista explica, no entanto, que neste período de fim de ano, decidiu dar uma pausa. "O período é ruim de serviço e estava muito estressante. Resolvi trabalhar em uma safra de cana próximo de casa e da família, mas pretendo retornar em 1 ano", explica o condutor.

ROTATIVIDADE E OBSTÁCULOS

Além da baixa demanda no fim do ano, Juscelino relatou outros obstáculos que, em sua visão, dificultam a entrada de novos motoristas no mercado logístico brasileiro.

"Nós sofremos muito com três problemas principais: segurança, burocracia dentro das empresas e a qualidade muito ruim das estradas. Você entra com aquele sonho, mas se choca com uma realidade que nem sempre é fácil. Têm também muitas empresas que acham que somos máquinas como os próprios caminhões, que não prestam auxílio e te colocam em jornadas exaustivas, como se você não tivesse família, uma casa, uma vida própria", relata Juscelino.

Segundo o caminhoneiro, são poucas as empresas que oferecem um preparo real e acolhimento para os motoristas que estão começando.

"Você fica muito às suas custas e isso pode afastar novos caminhoneiros", acrescenta, explicando ainda que um dos desafios é a falta de padronização na infraestrutura das rodovias brasileiras. "Dirigir no estado de São Paulo, por exemplo; se a infraestrutura que temos aqui existisse em outras regiões, seria bem melhor. Aqui há bons lugares de descanso, as Ecovias são muito boas e os próprios motoristas são mais bem preparados pelas empresas em relação à condução e sinalização", diz Juscelino dos Santos.

A UNIÃO ENTRE MOTORISTAS

Para enfrentar esses problemas, uma das estratégias utilizadas pelos caminhoneiros é a troca de informações e o companheirismo nas estradas, conforme explica o condutor.

"Quando eu entrei, tive sorte, porque entrei com outros motoristas e um incentivava o outro diante de dificuldades. Tive todo um preparo nesse sentido que me ajudou como autônomo, mas se você for muito cru, pode se decepcionar. Um dos lados bons de trabalhar nas estradas é justamente esse: a gente procura muito parar para ajudar um ao outro, rola muita comunicação. Além disso, vale muito a pena escutar os caminhoneiros mais velhos. É preciso aprender com as pessoas que estão mais tempo na estrada", explica Juscelino dos Santos.

OUVIR O MOTORISTA: DA TECNOLOGIA AO RECONHECIMENTO FINANCEIRO

Do lado das empresas e do poder público, o caminhoneiro cita algumas ações que, na sua visão, são fundamentais para atrair caminhoneiros de todas as idades para uma profissão que, conforme supracitado, enfrenta altos níveis de escassez no Brasil e no mundo.

"A remuneração é muito importante, é o que mais motiva e que te permite realizar sonhos. Você não vai querer sair de um lugar onde ganha bem. As empresas precisam também investir em gestão. Hoje se investe muito em tecnologia e isso é bom, mas é preciso investir em pessoas, em uma gestão boa, porque sem uma gestão boa, a empresa não anda. Se o sistema cai e não há ninguém para prestar um suporte, vira um transtorno, você fica 5, 6 horas, preso na empresa apenas para pesar uma mercadoria, atrasa o frete e estamos sempre no limite do tempo. Precisa investir em tecnologia, mas em gestão também, em pessoas", aponta Juscelino.

Sobre a questão da tecnologia, Juscelino acrescenta que, em muitas regiões do país, as conexões são instáveis e chuvas ou quedas de energia podem atrapalhar o fluxo logístico das transportadoras.

E ainda sobre inovação, o caminhoneiro traz um relato interessante sobre um tema que, segundo ele, preocupa outros motoristas:

"Hoje já temos empresas que oferecem treinamentos de segurança, colocam regras de velocidade e fazem o uso de câmeras nos caminhões. Isso é bom por um lado, mas é preciso também dar autonomia para o motorista e um problema é a questão da privacidade: não sou contra as câmeras, as externas te dão mais segurança, mas você perde muito da privacidade com as câmeras nas cabines. O caminhão é nossa casa na estrada e nós precisamos do espaço, da nossa privacidade".

Em relação a essa preocupação, é válido ressaltar a importância da utilização de tecnologias confiáveis e que se respeite, de fato, o direito à intimidade dos caminhoneiros. XXXX, da Onisys, comenta que…

Por fim, Juscelino dos Santos, ressalta a importância do diálogo com os motoristas por parte do poder público, de modo que mudanças positivas avancem na cadeia de supply chain nacional.

"Os governos também precisam ouvir os motoristas, nos entender, não basta simplesmente fiscalizar, penalizar, é preciso dialogar com os caminhoneiros para saber o que pode ser melhorado", acrescenta Juscelino.

FIM DE PAPO

Como é possível perceber, há uma atração na carreira de motorista que ainda desperta o interesse daqueles que estão começando uma trajetória profissional.

Mas, como também vimos, isso só não basta: criar condições para que os novos caminhoneiros sejam acolhidos, reconhecidos e trafeguem com qualidade e segurança pelas estradas brasileiras é fundamental se quisermos, de fato, enfrentar o desafio da escassez da mão de obra.

Ouvi-los é um primeiro passo que pode ser fundamental para a construção da logística do futuro.

 

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