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Desenvolvimento do setor Logístico exige maturidade tecnológica

Publicado em 07/02/2022

Índice de Produtividade Tecnológica (IPT) retrata baixo uso de tecnologias voltadas para operação logística, indicando potencial para crescimento

Artigo | Por Angela Gheller *


Foto: Divulgação

O Índice de Produtividade Tecnológica (IPT) do setor de Logística, pesquisa conduzida pela TOTVS em parceria com H2R Pesquisas Avançadas, que tem como intuito avaliar o grau de aplicação e aproveitamento tecnológico de prestadores de serviços logísticos e embarcadores, foi lançado em dezembro de 2021. Nele, pudemos perceber pontos importantes do setor logístico brasileiro, como o fato de que a maioria das empresas ainda não utilizam tecnologias aplicadas à operação logística.

Não à toa, o segmento obteve uma média de apenas 0,38 no estudo – em uma escala de 0 a 1. A pesquisa reforça que ainda não atingimos o potencial gigantesco de maturidade digital que o setor tem e que há muito espaço para seu crescimento e desenvolvimento, que pode ser bastante incentivado e apoiado pela aplicação de tecnologia em diversas frentes.

Ao todo, a pesquisa ouviu 740 empresas, entre nacionais e multinacionais, com faturamento igual ou superior a R$5 milhões, entre junho e setembro de 2021. Para um raio X mais fidedigno da realidade, a amostra foi composta de modo a abordar dois públicos diferenciados dentro do setor: 16% correspondem a prestadores de serviços logísticos (cuja atividade principal está atrelada à gestão logística), na seguinte divisão: 9% eram transportadoras; 6%, operadores logísticos; e 1% de recinto alfandegado. Os outros 84% dos entrevistados representam embarcadores – empresas cujo core business está em outra atividade, mas que ainda assim necessitam de gestão logística –, sendo 36% do varejo, 35% de distribuidores, 9% da indústria e 4% do agronegócio.


Gráfico 1: Públicos/subsegmentos analisados

Já em uma primeira análise comparativa entre os dois públicos do estudo, pudemos perceber uma discrepância nas médias dos prestadores de serviços logísticos e dos embarcadores. Enquanto os primeiros registraram 0,55 de média no IPT, os embarcadores obtiveram 0,35 – seguindo os mesmos critérios de avaliação: (1) a internalização desses sistemas; e, (2) o ganho de performance que essas soluções proporcionam aos negócios e às operações.


Gráfico 2: Resultado do IPT por público – prestadores de serviços logísticos e embarcadores

Ao analisar a posse e uso de soluções de gestão, observamos que os prestadores de serviços logísticos fazem alto uso de sistemas de gestão automatizados de transporte, sendo 74% à integração e rastreamento e 70% aplicados à otimização e roteirização logística. Observa-se que as soluções aplicadas são de extrema importância para o controle do custo do transporte, optando por rotas inteligentes e menos paradas; assim como, a segurança do acompanhamento da carga para evitar perdas ou outras situações. Enquanto para os embarcadores, esses tipos de sistemas são utilizados em menor escala, obtendo uma média de aplicação de 50% e 47%, respectivamente. A prioridade nos investimentos de soluções é totalmente direcionada ao papel que desempenham na cadeia.

 
Gráfico 3: Comparação da adoção de sistemas para logística e sistemas complementares entre embarcadores e prestadores logísticos

A pesquisa também revelou quais são as principais ferramentas utilizadas por cada público da pesquisa. Entre os embarcadores, destacam-se tecnologias para coleta e entrega de mercadorias (50%), gestão de armazenagem (46%) e sistema de check list (40%); para os prestadores de serviços logísticos, por sua vez, tecnologias voltadas para monitoramento de frota (66%), gestão de transporte (TMS) (61%) e gestão de custos logísticos (60%).

É nítida a diferença de prioridades entre os públicos, entendendo também o quanto embarcadores e prestadores de serviços logísticos se complementam. É importante reforçar o quanto a conexão e sinergia entre ambas as partes é necessária para que o setor funcione e ambos operem com ganhos, contrabalanceando lucros e custos da operação logística.

SUBSEGMENTOS: PRESTADORES E EMBARCADORES LOGÍSTICOS NO DETALHE

Entrando no detalhe da pesquisa e observando os públicos que compõem os 16% dos prestadores de serviços, as principais tecnologias aplicadas, e mencionadas anteriormente, são destaque entre as transportadoras. Isso se dá por essas empresas serem responsáveis pelo transporte das cargas inclusive dos operadores logísticos, que terceirizam a função, além do fato do público no recorte ser maior que os demais (9%).

Os operadores logísticos obtêm maior margem de lucro fazendo a gestão de armazenamento da carga e transferindo o custo do transporte para empresas, terceirizando a função. Para isso, eles requerem uma estrutura maior de armazenagem, apresentando uma média alta em volumetria de armazéns e tecnologia e tendo um setor próprio para a gestão (73%); enquanto, a frota da empresa é muito pequena – em média 29 veículos, sendo que 60% possuem um setor e 25% terceirizam a gestão de transporte.

Em relação a utilização de soluções complementares aos sistemas de gestão adotados, os operadores logísticos e as transportadoras demonstram comportamentos similares, destacando a utilização de Business Intelligence (BI) – 71% e 73%, respectivamente. A aplicação desse tipo de tecnologia é bastante positiva, uma vez que o BI apoia a organização e controle dos fluxos, melhorando processos e aumentando a produtividade de todos os processos operacionais.

Analisando os subsegmentos de embarcadores, nota-se que 86% dos distribuidores possuem sistemas para gestão de transporte, com soluções voltadas para otimização e roteirização logística (61%) e integração e rastreamento (59%), que correspondem ao core de suas atuações; 92% possuem sistemas para gestão de armazenagem, fazendo uso de dispositivos móveis na operação e integração com hardware (59%) e código de barras/ RFID/ BEACON (43%). Nas soluções complementares, seguindo a tendência do setor, o maior destaque dos distribuidores está na adoção de BI (51%), seguido por CRM (33%) que, entre os embarcadores, parece algo mais relevante do que entre os prestadores de serviços logísticos.

Entre as indústrias, 97% possuem sistema de gestão de transporte, sendo destaque a posse de sistemas de integração de meios de pagamento (34%) e, depois, sistemas voltados para otimização e roteirização logística, assim como integração de rastreamento (ambos com 31%). Analisando os sistemas de gestão de armazenagem (adotados por 94% dos entrevistados), as indústrias demonstram maior preocupação e aplicação de soluções que fazem o acompanhamento da carga, como código de barras / RFID / BEACON (48%), ressaltando uma maturidade com relação a gestão de produtos.

No varejo, analisamos um cenário em que o armazenamento é a principal preocupação, vide os centros de distribuição, sendo que 92% possuem sistema de gestão para armazenagem e apenas 76% para transporte. O subsegmento já apresenta maior uso de dispositivos na operação de armazenagem (51%) e sistemas de código de barras / RFID / BEACON (48%). Voltado para o transporte, privilegiam soluções voltadas para otimização e roteirização logística (44%) e integração de rastreamento (39%). Assim como os demais subsegmentos do setor, a ferramenta de BI também é a mais adotada como solução complementar (50%).

O último subsegmento analisado entre os embarcados foi o do agronegócio. No estudo, observamos que 86% destes investem em sistemas de gestão de transporte e 82% em soluções de armazenamento. Comparada às demais empresas dentre os embarcadores, o agronegócio se destaca positivamente na integração com meios de pagamento (41%) e no gerenciamento de risco (29%); porém, também investe bastante em sistemas de otimização e roteirização logística (53%).

Em relação às soluções de gestão de armazenagem, o agronegócio supera os índices dos embarcadores quanto ao sistema de integração com hardware, com 50% - enquanto os embarcadores registram a média de 36%. Um ponto que chama a atenção na pesquisa é o alto uso de soluções de CRM na operação, registrando 57%, a mesma média que a ferramenta de Business Intelligence.

Com essas análises mais detalhadas, propostas no Índice de Produtividade Tecnológica (IPT), é possível perceber alguns comportamentos similares entre os subsegmentos de embarcadores. Quanto à adoção de sistemas de gestão de logística, no geral, os embarcadores utilizam mais ferramentas de coleta e entrega de mercadorias e gestão de armazenagem. Novamente, vemos que essas empresas conseguem terceirizar a sua operação de transporte, privilegiando a gestão da carga ou produto que manipulam.

INVESTINDO NO FUTURO

Um dos tópicos analisados pelo IPT são os investimentos futuros, questionando as empresas sobre as prioridades para os próximos dois anos.


Gráfico 4 – Investimentos futuros na empresa: prestadores de serviços logísticos

As principais tecnologias que os prestadores de serviços logísticos pretendem investir nos próximos dois anos são: digitalização de processos em geral (70%), soluções em dispositivos móveis (67%) e sistemas de assinatura digital (61%). No detalhe, os operadores logísticos pretendem continuar investindo na ferramenta de BI (50%); e, entre as empresas que não possuem sistema de gestão para as funções logísticas, a intenção é obter sistemas de agendamento (46%), gestão de armazenagem (42%), de custo logístico (41%) e sistema de check-list (40%).

Entre as transportadoras, o BI segue com a mesma tendência, sendo alvo de 53% dos entrevistados. Já para itens de logística, a ordem de importância se alterna. As transportadoras pretendem privilegiar sistemas de check-list (50%), gestão de custo logístico (44%), gestão de transporte TMS (43%) e na gestão e manutenção de frota (31%) – item que encarece demais a operação desse subsegmento.

 
Gráfico 5 – Investimentos futuros na empresa: embarcadores

Entre os embarcadores, observamos as mesmas tendências que os prestadores de serviços logísticos, porém, com diferente ordem de priorização. Para os próximos dois anos, deve haver investimentos em soluções em dispositivos móveis (68% - “totalmente e muito”), na digitalização de processos em geral (61%) e sistema de assinatura digital (59%).

Acompanhando os subsegmentos de embarcadores, observa-se que a implantação de CRM é uma prioridade para as empresas, uma vez que mais da metade das entrevistadas pretendem adquirir esse tipo de sistema. Apenas no subsegmento do agronegócio é possível observar uma movimentação diferente, aparecendo 50% das intenções de investimento em gerenciamento eletrônico de documentos (GED).

No detalhe dos investimentos para os próximos dois anos entre os diferentes públicos de embarcadores, para os distribuidores, as principais ferramentas de logística são: gestão de custo logístico (44%), gestão de armazenagem (42%), sistema de check-list (38%) e sistema de coleta e entrega de mercadorias (37%). As indústrias aplicarão capital em sistemas de gestão de custo logístico (42%), sistema de agendamento (40%), sistema de coleta e entrega de mercadorias (39%) e sistema de check-list (38%).

Entre os varejistas, destacam-se as soluções de gestão de custo logístico (36%), sistema check-list e gestão de armazenagem (ambos com 35%), as ferramentas de tracking e previsão de entrega (31%) e sistemas de coleta e entrega de mercadorias (30%) – intenções que acompanham a necessidade desse subsegmento, uma vez que a maior parte dos varejistas são B2C. No agro os investimentos se voltam para gestão de custo logístico (47%), ferramentas de planejamento de carga (43%), monitoramento de frota (38%), gestão de transporte TMS (35%) e gestão e manutenção de frota (33%).

O Índice de Produtividade Tecnológica (IPT) do setor Logístico é uma pesquisa de alto valor para entender o atual cenário do mercado brasileiro, a maturidade tecnológica das empresas de cada segmento e subsegmento, quais as demandas e prioridades na visão desses investidores. O setor Logístico possui uma alta capilaridade e importância para o PIB brasileiro, uma vez que diversos setores também precisam investir e requerem serviços logísticos para entrada e saída de produtos.

Focando especificamente em tecnologias, o mercado disponibiliza uma gama de ferramentas e soluções voltadas para as mais peculiares necessidades, assim como observa-se na pesquisa o desenvolvimento de soluções proprietárias para atender aos próprios negócios. Há ainda muito o que se explorar nesse setor que, novamente, possui um potencial gigantesco de desenvolvimento e requer atenção dos players do mercado.

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* Angela Maria Gheller Telles é diretora dos segmentos de Logística, Manufatura, e Agroindústria da TOTVS desde janeiro de 2017. Antes disso, a executiva trabalhou por mais de três anos como coordenadora de sistemas na Logocenter, empresa adquirida pela TOTVS em 2005, onde entrou como programadora e analista de desenvolvimento. A diretora é formada em Processamento de Dados de Software e Aplicativos pela Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC) e possui MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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