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Logística de transportes: 7 torneiras de desperdício que acabam com sua margem de lucro

 

Publicado em 15/11/2020

 

Um grande gestor de logística é também um estrategista, no sentido de que ele está sempre buscando descobrir quais são, e, como fechar as torneiras de desperdício que, de pingo em pingo levam embora as margens da operação.

Os desperdícios podem ser vários e podem estar em todas as fases da cadeia, contudo, a área de transportes merece uma atenção mais que especial.

E por motivos óbvios:

Além de protagonizar toda movimentação de insumos, acabados e pessoas, é responsável por até 70% de todo o custo logístico.

Diante de tal justificativa, se você ainda tem dúvidas sobre onde focar na logística, está correndo sérios riscos do próprio Vilfredo Pareto (pai da regra do 80/20) em pessoa, voltar para atormentar seus sonhos (depois dessa brincadeira me recuso a explicar o princípio de Pareto. Clica no link aí ou dá um Google).

Nesse artigo, entregarei as ferramentas necessária para estancar até a última gota de todo esse desperdício.

Muitos consultores diriam que eu sou louco por entregar todo ouro e apontar os caminhos de uma operação logística pelo menos 30% mais produtiva e rentável.

Talvez seja mesmo. No entanto, não vou pecar por omissão.

Quero que descubra o que fazer para estancar de vez as torneiras de desperdício de sua operação.

E para você que ler até o fim, entregarei ainda o "pulo do gato".

 

7 torneiras de desperdício

Antes de tratarmos das torneiras, permita-me um rápido adendo sobre leis e rodovias.

A gestão da frota, seja por parte da transportadora ou do embarcador, exige malabarismos dignos de artistas circenses.

O Brasil realmente não é para amadores e, antes que me julgue, não sofro da síndrome de vira lata não.

É que em terras Tupiniquins, a qualidade de nossas rodovias e leis são interessantíssimas (para não usar palavra pejorativa).

Estima-se que cerca de 75% da carga transportada pelo Brasil é movimentada pelas rodovias, e segundo levantamento do DNIT, o país conta com 1,7 milhão de quilômetros de estradas. Contudo, apenas 13% estão pavimentados. O restante, 87% das rodovias, não tem qualquer tipo de pavimentação.

A legislação brasileira de transporte rodoviário é complexa e exige atenção dos gestores e empresas que devem estar atentos especialmente a lei “mãe” do transporte rodoviário que é Lei 11.442. Ela é a base para as demais resoluções.

Depois de dominá-la, deverá ter ciência de outras regulamentações como:

  • A NR-11 que trata dos processos de segurança no transporte, manuseio, movimentação de materiais e armazenamento;
  • A Lei do descanso 12.619: que determina que o caminhoneiro faça paradas de 30 minutos a cada quatro horas ao volante. Além disso, o motorista profissional deve parar por uma hora durante essa jornada para a refeição e considerar intervalo diário de 11 horas entre uma viagem e outra;
  • A resolução do CIOT – Código Identificador da Operação de Transporte (vive sendo mudada) que trata do pagamento de frete por meio eletrônico numa tentativa de extinguir a carta frete;
  • A Lei 10.209 que obriga que o pedágio seja antecipado ao transportador rodoviário de carga e também estar destacado do valor do frete.

Feito esse pequeno adendo, vamos conhecer as sete torneiras que o pinga-pinga delas prejudicam os ganhos de sua operação logística.

 

Torneira 1: tributação 

Os aspectos fiscais e tributários tem expressivo impacto no custo das operações.

Tomemos como exemplo do ISS e ICMS: quando a prestação de serviço é dentro do município, incide o ISS, com alíquota que varia entre 2% e 5% nos termos da legislação municipal. E se a prestação de serviços for intermunicipal e interestadual, vigora a cobrança de ICMS, com alíquota de 12% a 18%.

É comum operações híbridas com parte da movimentação municipal e parte intermunicipal. O que na hora de compor os custos será sempre um desafio ter o levantamento de volume de cada uma delas, bem como saber exatamente o valor incidente, seja do ISS ou ICMS.

Já vi operações onde as cobranças foram realizadas de maneira errada causando prejuízos milionários para a empresa pagadora.

Ferramentas para estancar essa torneira:

É de vital importância envolver equipes especializadas como: tributário, jurídico, contabilidade e outros, para que façam os estudos e cálculos sempre que necessário. Inclusive em operações já existentes.

 

Torneira 2: tempos e movimentos

Tempo é dinheiro, e logística, basicamente, é tempos e movimentos.

Sempre gosto de metaforicamente dizer que o gestor de logística deve ter relógio em uma mão e calculadora na outra.

Assim, os minutos que pingam na torneira dos tempos pares: carga e descarga são as maiores perdas. É quando pessoas e ativos estão totalmente ociosos aguardando:

  • Cargas serem separadas;
  • Produto serem encontrados em estoques desorganizados;
  • Material chegar de outra origem;
  • Espera para ser atendido na porta do cliente;
  • Erro de agendamento;
  • Pedidos faturados errados;
  • Gargalos por falta de espaço, trânsito interno e outros;
  • Documentação fiscal ficar pronta.

E tudo isso ocasiona ociosidade humana, de equipamentos ou dos dois juntos. O que culmina em um mar de estadias, demurrages e outras taxas paliativas.

Ferramentas para estancar essa torneira:

Faz-se necessário ter processos bem desenhados como: hora de corte dos pedidos, disciplina em consultar os estoques antes de lançar pedidos, time de monitoramento responsável por agendar e acompanhar a carga e a descarga, estoques organizados para facilitar a separação dos pedidos, tecnologia de ponta para acessos e faturamento fiscal…

 

Torneira 3: ocupação veicular deficiente

Quando problemas relacionados a produtividade e eficiência emergem em uma operação, a reclamação é sempre: está faltando transporte.

O que não deixa de ser uma verdade, pois, cargas ficam para trás, clientes não são atendidos e naturalmente perde-se vendas ou deixa-se de produzir.

Porém é preciso cautela antes de decidir aumentar a frota existente ou contratar veículos spot.

Duas coisas costumam acontecer na maioria das operações:

  1. Os veículos estão sendo carregados abaixo de sua capacidade ideal, seja em peso ou cubagem, dependendo do tipo de carga;
  2. Ou se estão sendo carregados de forma ociosa é possível que as dimensões cadastradas das embalagens de embarque ou do próprio produto estejam erradas nos sistemas.


Ferramentas para estancar essa torneira:

Verifique a ociosidade de seus veículos através de um KPI simples de ociosidade x ocupação e refaça as medições e/ou revisite os cadastros das embalagens e produtos. Você pode também utilizar um software de composição de carga ao invés de confiar no Excel de seu faturista.

 

Torneira 4: programação e controle de rotas 

A falta de programação assertiva e controle da rota programada leva a gastos desnecessários com combustível devido quilometragem a mais percorrida, atrasos na entrega e perdas em tempos e movimentos. Além de expor a carga e o veículo a perigos de roubo.

Não é inteligente deixar a escolha de rotas por conta do motorista. Cada vez mais o trânsito dos grandes centros se intensifica e os desafios logísticos aumentam. A maneira mais eficiente de minimizar todas essas perdas e roteirizando cada viagem.

A roteirização é um método de busca, da melhor sequência de visitas a um determinado número de clientes, no interior de uma zona de coleta ou distribuição, ou seja, sequência “otimizada” de entrega e coleta de produtos.

Ferramentas para estancar essa torneira:

Tenha uma ferramenta tecnológica de roteirização. Segundo pesquisas o uso de softwares de roteirização traz reduções de custos na casa dos 20%. Quando realizado manualmente, ou seja, pelo racional humano, os resultados já são percebidos, porém com o agravamento das restrições urbanas, como horários de entrega reduzidos, proibições da maioria dos tipos de veículos, restrições de velocidade, tempos de paradas e número de pontos. Faz-se necessário; sistemas bem mais elaborados; Software de roteirização.

 

Torneira 5: condutores

Um caminhão da linha pesado, com Peso Bruto Total (PBT) acima de 40 toneladas, custa a bagatela de R$ 500.000,00 (meio milhão de reais), dependendo do modelo, e geralmente é dirigido por alguém que ganha em média R$ 2.3160,00 (dois mil trezentos e dezesseis reais).

A ideia aqui não é discutir justiça salarial ou algo do tipo, mas reforçar a importância de gerir um patrimônio dessa magnitude, que a transportadora faz o investimento e o embarcador através do frete “remunera o investimento” com margem de lucro.

Existe perda significativa na insciência sobre a forma que os condutores conduzem os veículos, estando assim a mercê de:

  • Gastos extras com combustível;
  • Desgaste acelerado do ativo;
  • Manutenções em excesso;
  • Perdas de pneus que “estouram” nas viagens ou tem desgaste excessivo por frenagem criminosa;
  • Riscos jurídicos e de acidentes.

Fora quando não se tem certeza se os veículos são utilizados para outros fins que não os de interesse da empresa.

Ferramentas para estancar essa torneira:

Primeiro e mais importante ponto: recrutamento e seleção. Toda vez que você errar nessa fase, terá que gastar dinheiro em treinamento, demissão/substituição e processos trabalhistas. Cuidando bem dessa fase, é vital ter tecnologia de telemetria, rastreamento e monitoramento para conhecer o comportamento do caminhão e do motorista, mas não só isso. É preciso ter uma central que além de fazer o acompanhamento em tempo real, faça também abordagens e intervenções sempre que necessário para ajudar o motorista e apoiar a viagem.

 

Torneira 6: composição dos custos 

A composição do preço do frete é sem dúvida a parte mais sensível de uma negociação. Se ele for mal calculado a empresa perde dinheiro, aliás, corre o rico de quebrar (transportadora) e matar toda a margem do produto transportado (embarcador).

Pensando em custos diretos é preciso contemplar frete peso, Ad-valorem, taxas, bem como: modal, distância, peso, dimensão da carga, valor e tipo da carga, pedágio, qualidade da via, particularidades de manuseio, mark-up

Considerando também outras demandas adicionais que acabam por alterar os custos da entrega ou aumentar os riscos: perdas em tempos e movimentos, confiabilidade do parceiro ou fornecimento do serviço, frequência de pagamento etc.

Ferramentas para estancar essa torneira:

Como ferramenta, indico um artigo onde ensino como compor os custos de movimentação: Valor do frete – Aprenda a calcular de forma simples e prática.

 

Torneira 7: falta de gestão e medição

No mundo moderno, da quarta revolução industrial, é possível medir tudo, cada detalhe, cada operação, cada fator do transporte e, aí está o “problema”. O segredo não está em medir por medir, mas em saber o que medir.

O guru da qualidade William Edwards Deming dizia de forma genial:

 

“Acredito em Deus, todos os outros devem apresentar dados e fatos”

 

Essa máxima deve ser adotada por todo gestor de logística que deseja ser um grande gestor, pois o já referido Deming também afirmava que:

 

“Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, e não há sucesso no que não se gerencia”

Faz parte de um bom planejamento estratégico identificar e acompanhar drives específicos. Muitas empresas não conseguem tomar decisões assertivas porque não medem a produtividade e eficiência das operações ou, quando o fazem, geram uma infinidade de informações e não determinam o que é relevante.

Ferramentas para estancar essa torneira:

Defina indicadores chaves de performance (KPI). Invista em Data Mining (mineração de dados): um processo técnico, automático ou semiautomático, que analisa grandes quantidades de informações dispersas para que tenham sentido e sejam convertidas em conhecimento. Invista na ciência e em um profissional que domine a ciência.

 

O pulo do gato: centralize tudo isso em uma torre de controle

O pulo do gato é uma expressão de origem popular que significa uma ação em que o indivíduo se diferencia e ganha destaque. No mundo dos negócios, é aquela decisão que gera diferencial competitivo mudando o patamar da empresa.

Nesse sentido, a Torre de Controle ou Centro de Controle Operacional (CCO), é o estado da arte da gestão moderna que centraliza o controle da logística de transportes, tratando em tempo real todas as 7 torneiras de desperdício que falamos ao longo do artigo e outras tantas intempéries que surgem no dia-a-dia das operações logísticas, apoiadas por tecnologias existentes, processos bem definidos e um time de especialistas capacitados.

 

Como disse, um grande gestor logístico é também um estrategista que está sempre em busca de maneiras eficientes de reduzir os custos melhorando a performance e a eficiência da operação.

E você, vai fechar as torneiras do desperdício ou deixará que o pinga-pinga continue?

 

Até à próxima!

 

Achiles Rodrigues

Por Achiles Rodrigues

Achiles Rodrigues é executivo de marketing de vendas e um nexialista com mais de 20 anos de experiência no mundo corporativo. Logístico de “pai, mãe e parteira”, já atuou nos mais diversos setores e segmentos como gestor de logística, transportes e melhoria contínua. Formado em administração, teologia e pós-graduado em vendas, negociações e resultado de alta performance e logística e Supply Chain. É colunista da revista MundoLogística e fundador dos blogs clubedalogística.com.br e achilesrodrigues.com.br.

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