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Brasil avança em ranking de logística do Banco Mundial, mas ainda apresenta deficiências no setor

Publicado em 16/08/2016

País subiu dez posições e ocupa o 55º lugar, em 2016, porém, está longe de seu auge

No final de junho, foi divulgado o relatório da pesquisa bienal, Logistics Performance Index (LPI), do Banco Mundial, em Washington, Estados Unidos, que, desde 2007, mede a eficiência do setor em 160 países. Este ano, o Brasil aparece em 55º posição, dez a mais do que no último levantamento, em 2014, quando ocupava o 65º lugar. A aparente melhora pode ser encarada como uma “faca de dois gumes”, que tem seu lado positivo para os empreendedores mais otimistas, mas, também, apresenta desafios, de acordo com especialistas do setor. Por isso, é necessário conhecer os dois e se preparar para os obstáculos e as oportunidades do mercado.

Top list
Certamente, a crise político-econômica brasileira é um dos fatores que mais afetaram o resultado do País. As mudanças constantes na economia enfraqueceram o comércio, que teve queda de 6,5%, nos últimos 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os baixos resultados nas vendas reduziram a demanda e, consequentemente, os problemas. Entretanto, para que o setor continue evoluindo, é necessário que haja investimentos que facilitem o seu crescimento, ao mesmo passo em que a economia se recupera.

O Top 10 é dominado por países desenvolvidos. A Alemanha lidera o ranking e o último lugar é ocupado pelo Haiti. O Brasil está na frente de países, como Argentina e Colômbia, mas abaixo de outros emergentes, como a China e os vizinhos Chile e México. O relatório destaca que a logística dos países em desenvolvimento avançou, já nas economias mais pobres, o progresso desacelerou pela primeira vez, desde o início das pesquisas. Apesar do avanço no ranking, o setor de logística do Brasil está longe do patamar de países mais desenvolvidos e precisa de melhorias urgentes, caso queira aumentar a sua competitividade internacional e evitar o declínio.

Pontos fracos
A pior posição do País? A categoria “custos”, que mede a competitividade dos preços, rendeu a menor nota. Os preços altos são sempre os vilões e, por trás deles, há vários fatores, que, muitas vezes, não estão no controle.

Para o CIO da SHL Logística, Roberto Hoffmann, existem entraves significativos, como a infraestrutura do País, que ainda está aquém do ideal. “O setor é impactado diretamente por fatores externos, que podem gerar uma série de inconvenientes, causando atrasos e encarecendo o serviço. Para driblar esses problemas, é fundamental investir em tecnologia e sistemas que possibilitem a redução dos custos e a potencialização dos resultados.”

Infelizmente, a situação da malha viária, aeroportuária e estradas do País ainda é precária, o investimento em tecnologia também, mas quanto maior a aplicação interna dos comerciantes, menor serão os danos causados por esses elementos.

Inexperiência atrapalha os negócios
Um dos erros mais comuns nessa área é cometido justamente por profissionais inexperientes ou novos empreendedores, que, visando economizar, optam pela falsa praticidade de administrar a logística do negócio sozinhos, muitas vezes, na própria casa, para os que estão ingressando no mercado e, na maioria dos casos, essa alternativa pode sair como um tiro no pé, pois a falta de experiência, estrutura e colaboradores preparados pode resultar em dor de cabeça e prejuízo.

Uma loja virtual situada em São Paulo que precisa fazer uma entrega no Pará, por exemplo, provavelmente, enfrentará problemas com a situação das estradas, ao sair do Estado. O comerciante que assume essa tarefa de forma amadora não está preparado, nem possui recursos, para lidar com essa situação, devido às implicações dos métodos tradicionais. Muitas vezes, terceirizar a logística permite um controle maior sobre o transporte de mercadorias. Além de eliminar processos internos e dispor de uma infraestrutura completa, as empresas especializadas podem oferecer aos consumidores a opção de monitorar e rastrear a carga em tempo real, com informações mais detalhadas, o que transmite a credibilidade que as pessoas geralmente buscam, na hora de realizar as suas compras.

Pontos fortes
De acordo com a LPI, o Brasil vai bem na qualidade do rastreamento, que se refere ao monitoramento das cargas. Para Hoffmann, isso se deve, justamente, à otimização logística e ao investimento em tecnologia. “Esse item é muito importante para a imagem do negócio, principalmente, no mercado de e-commerce, no qual todas as transações são online e os consumidores prezam pela segurança e garantia de entrega do produto adquirido, por isso, é um dos ramos que mais carece de um serviço competente e eficaz, para minimizar os danos.”

Na maioria das vezes, o consumidor não faz ideia dos custos de mobilização de mercadorias e pensa apenas no frete, que se refere apenas ao deslocamento do produto do armazém até o cliente, já o empreendedor preocupa-se com a logística, que é bem mais ampla. “Há todo um processo nos bastidores que o cliente não vê e, por vezes, passa despercebido, desde que a etapa final, que é a entrega, seja concluída com êxito. O problema é que qualquer falha, no decorrer do processo, pode comprometer a etapa final, por isso, a excelência na gestão do processo de logística é o fator diferencial, para combater os custos e minimizar as falhas”, acrescenta Hoffmann.

Outro item bem avaliado foi a “logística e a competência”, que afirma que o País é capaz e está apto para realizar o serviço, mas a avaliação deixa claro que ainda não dá para competir com os melhores do ranking. De modo geral, o Brasil está na linha mediana, mas se mantém no caminho certo. O setor de logística nacional necessita de muitas melhorias e investimentos, sobretudo, de profissionais qualificados, com olhares atentos e capazes de galgar posições mais altas e, quem sabe até, alcançar o patamar do top list.

Oportunidades
Apesar da queda nas vendas do comércio tradicional, o setor de e-commerce nacional está em alta. Segundo dados do Sebrae, em 2015, mais de 5 milhões de pessoas se tornaram microempreendedores. O comércio eletrônico é o que mais se destacou entre os novos negócios e, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), estima crescer 8%, ainda este ano, o que é um grande atrativo para novos empreendedores, que devem ficar atentos à qualidade das operações logísticas de seu negócio.

A maioria dos métodos utilizados passa despercebida pelo consumidor, mas ao realizar uma compra pelo site, sua maior expectativa é que o produto chegue logo e sem nenhum dano. Para garantir isso, Hoffmann afirma que o alinhamento dos processos é essencial. “Assegurar que todas as etapas sejam concluídas com eficiência é determinante para a fidelização do cliente. A otimização desses métodos permite melhoras significativas no processo de entrega, tornando-o mais ágil e evitando falhas, o que não só reflete positivamente na imagem da empresa, como também reduz os custos operacionais.”