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Burocracia e lentidão prejudicam transporte de produtos perigosos no Mercosul

Publicado em 20/06/2022

Especialista observa que, em vez de simplificar, bloco econômico dificulta a atuação das transportadoras, que trabalham para manter a qualidade nos seus serviços internacionais

Por Redação


Foto: Shutterstock

Empresários do setor de transporte rodoviário de cargas que atuam pelo Mercosul, criado com o intuito de simplificar as relações comerciais entre países da América Latina, se queixam das grandes dificuldades criadas pelo excesso de tarifas e de regulamentações do bloco. Pelo fato de os integrantes serem parceiros comerciais estratégicos para o Brasil, transportadores afirmam que o alinhamento de perspectivas e interesses entre os membros do mercado deve ser uma das prioridades da equipe econômica nacional.

Para as empresas que transportam produtos químicos ou perigosos, esse cenário pode ser ainda mais complicado. Caso a gestão não esteja atualizada com as normas de regulação dos mercados nacional e internacional, o fluxo de trabalho pode se tornar impraticável. Certificados e sistemas de avaliação como o de Movimentação de Produtos Perigosos (MOPP) e o Sistema de Avaliação de Saúde, Segurança e Meio Ambiente e Qualidade (SASSMAQ) demandam tempo e recursos materiais e humanos que, somados à burocracia do Mercosul, interrompem o funcionamento da cadeia de suprimentos.

“Apesar de a legislação para produtos perigosos no Mercosul ser semelhante à do Brasil, a região está longe de oferecer simplicidade para o transportador. Quando pensamos em gestão, as pessoas se esquecem de que tempo também é recurso e um, por sinal, bem escasso. Durante a pandemia, esses problemas, que já existiam, tornaram-se piores. Por isso, precisamos, enquanto empresários e cidadãos, encarar essa realidade de alguma forma.” – Gislaine Zorzin, diretora administrativa da Zorzin Logística.

Com a crise sanitária criada pela Covid-19, foram criados ainda mais entraves ao fluxo de mercadorias, devido à necessidade de comprovação de documentação de vigilância sanitária, de vacinação e de controle de testes rápidos. Segundo Gislaine, mesmo que importante, o rigor na fiscalização também evidenciou a lentidão, os erros na manutenção do padrão de qualidade nas aduanas e problemas históricos no transporte internacional de produtos perigosos, como o atraso na atualização das fichas de emergência da cartilha que orienta a fiscalização dos passageiros no veículo.

Da mesma forma, existem incertezas quanto à tolerância no excesso de peso e ausência de consenso em como realizar e padronizar as inspeções técnicas nos veículos e nas licenças ambientais. Medidas recentes, como o Decreto nº 11.090 de 7 de junho de 2022, que altera a base do cálculo do imposto de importação e cobrança sobre o serviço de capatazia, é estimado pelo Ministério da Economia como uma das peças-chaves para reduzir em 10% as alíquotas da Tarifa Externa Comum (TEC).

O decreto representa um avanço, contudo na visão do setor significa apenas um alívio nas tarifas. Gislaine afirma que o problema não é só de pagamentos, mas de gestão e de comunicação. O embarcador, a transportadora e o cliente perdem horas na espera do retorno de informações sobre a análise dos documentos. A lentidão nas alfândegas contribui para a atuação do crime organizado no Mercosul durante as paradas.

“Roubo de cargas é uma questão que independe da região, do tipo de serviço e do rendimento da empresa. Toda transportadora em qualquer lugar do mundo sofre com isso, pois envolve uma estrutura de crime que a cada ano fica mais complexa. A diferença está nos instrumentos utilizados para combatê-lo”, explica a executiva. “Estamos há 20 anos sem nenhuma ocorrência em nossas operações, e o motivo desse sucesso está no investimento que fazemos em tecnologia e em pessoas.”

A seleção da equipe de colaboradores junto à equipe de recursos humanos da transportadora é um diferencial competitivo nas empresas de transporte e logística. O trabalho no Mercosul demanda do condutor a proficiência em outros idiomas, como o espanhol, e a habilidade para saber trabalhar em culturas e em estruturas políticas e econômicas distintas.

Sabendo trabalhar em diferentes situações, o condutor torna-se apto a atuar sob diferentes circunstâncias e lidar com a variação de experiências em outros países. A especialização e capacitação para esses cenários envolve a despesa com recursos (materiais ou imateriais). Somados aos demais gastos: combustíveis, fretes defasados, renovação e gestão de frota e a compra de peças e de pneus, arcar com custos adicionais, ou não planejados, diminui o espaço para o investimento e a inovação no transporte, cujos resultados são sentidos nos indicadores de atividade econômica.

“Temos, no Brasil, uma excelente cultura de conscientização sobre a importância da segurança e do cumprimento às regras jurídicas e éticas. De certa forma, isso nos ajuda a criar uma capacidade para lidar com imprevistos e cenários adversos e desafiadores. Entretanto, não tem como fazermos milagres: precisamos do apoio dos governos e das empresas locais e internacionais para nos ajudar com isso. Não dá para não existir comunicação; precisamos trabalhar de forma integrada e trocar dados para a formulação de políticas que valorizem os objetivos do Mercosul.” – Gislaine Zorzin, diretora administrativa da Zorzin Logística.