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Cia Müller de Bebidas produz 95% da Cachaça 51 com embalagem retornável

Publicado em 07/06/2016

Toneladas de vasilhames transportados a granel, ao longo de milhares de quilômetros, são desafio para a logística reversa

A cada hora, são servidas 374 mil doses de Cachaça 51, em algum ponto do Brasil. Ao final de cada dia, são 450 mil litros vazios, equivalentes a, aproximadamente, 225 toneladas de resíduos sólidos por dia. A destinação correta do ponto de vista de sustentabilidade é o retorno dessas embalagens, para serem novamente envasadas e recolocadas no ciclo de consumo. Para fazer isso, a Cia Müller de Bebidas opera uma complexa logística, que inclui um sistema de coleta, que se estende a todos os extremos do País, como Tabatinga, a quatro dias de barco de Manaus, e tem o desafio de transportar até 60 mil vasilhames, deitados um sobre o outro, em uma carreta, que tem de atravessar milhares de quilômetros, em alguns dos piores trechos de estradas.

Esse sistema, que começou a ser implantado bem antes da lei que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, coloca a Cia Müller entre os principais operadores de logística reversa de embalagem, no setor de bebidas. Dos 400 mil litros de produto que saem diariamente das duas fábricas, em Cabo de Santo Agostinho, próximo de Recife, em Pernambuco, e em Pirassununga, no interior de São Paulo, cerca de 95% retornam sucessivas vezes para a linha de envase, correspondendo a 200 toneladas pós-consumo, que são geradas diariamente e que já contam com destino correto. Isso se torna particularmente relevante, diante do fato de que a Cachaça 51, líder com 40% de participação de mercado, é distribuída em um milhão de pontos de comercialização, que vão de grandes redes de supermercados a quiosques de praia, passando por restaurantes e bares frequentados por todas as classes sociais, em mais de 5.000 municípios brasileiros.

Parte dos vasilhames da Cachaça 51 retorna, por meio do sistema tradicional, dentro de engradados apropriados, que evitam o atrito entre elas, como é feito com as garrafas das chamadas bebidas frias. Nessa modalidade, cada carregamento comporta 25 a 30 mil vasilhames e é adotado para os percursos menores. Quando se tratam de longas distâncias, como o mercado da região Norte, para tornar a operação economicamente viável, é necessário, pelo menos, o dobro de litros em cada viagem, por isso, o transporte é feito a granel, torna-se mais complexo e requer cuidado redobrado.

Poucos motoristas se habilitam. Um deles é Elivar Martins Santos. Pelo menos uma vez por mês, ele sai com a sua carreta de 30 toneladas de Manaus, transportando 55 mil vasilhames para a fábrica da Cia Müller de Bebidas, em Pirassununga. Em linha reta, são 2.500 km. Porém, para chegar ao destino, são quase 3.000 km, que começam no rio Madeira, com o deslocamento por balsa de Manaus até Porto Velho, em Rondônia, e continua por via terrestre, chegando a consumir de uma semana a 10 dias, dependendo das correntes fluviais e da situação das estradas.

O desafio de chegar com o máximo possível de vasilhames aproveitáveis começa no carregamento. Uma equipe de 12 pessoas costuma trabalhar de 8 a 10 horas seguidas, erguendo pilhas de 3 metros de altura de litros vazios, deitados um sobre o outro cuidadosamente, até ocupar todo o espaço da carroceria do caminhão, formando um bloco compacto, capaz de resistir aos impactos provocados por solavancos, durante a viagem. Na última viagem de Elivar, isso funcionou bem. Dos 55 mil vasilhames embarcados, apenas 360 estavam quebrados, quando ele chegou. Entretanto, já houve uma viagem em que 3.000 litros transformaram-se em cacos, ao longo do trajeto.

Não é somente de Manaus que a Cia Müller recebe caminhões carregados de vasilhames retornáveis de cachaça. Em média, chegam 20 por dia, provenientes de diversos locais do Brasil, com transporte a granel ou em engradados. A capacidade total de descarregamento na fábrica é de 936 mil litros diariamente, praticamente o dobro da capacidade de envase. Diferentemente do carregamento a granel, que leva um dia, a operação para descarregar leva, no máximo, 3 horas. Passando por rigoroso controle de qualidade, que requer equipamentos específicos de higienização e inspeção, os vasilhames são retirados do caminhão e, rapidamente, retornam para o ciclo produtivo, conforme o conceito de logística reversa.

O Acordo Setorial para Implantação do Sistema de Logística Reversa de Embalagens foi assinado em novembro passado e a Política Nacional de Resíduos Sólidos está em vigor desde 2010. Porém, na Cia Müller, a prática de viabilizar a coleta de resíduos sólidos, como as embalagens, e seu reaproveitamento como insumo na produção começaram muito antes. A base para isso foi a modalidade de venda retornável, em que parte dos 1.500 clientes têm uma espécie de conta corrente de ativos em embalagens, que é alimentada justamente pelo retorno de vasilhames ou caixas.

Isso estimulou os clientes e os distribuidores a desenvolverem um sistema para a coleta e compra de vasilhames, envolvendo “garrafeiros” e catadores. Em Manaus, por exemplo, há postos para a coleta e depósitos para receber vasilhames recolhidos em toda a cidade e de locais mais distantes. É o caso de Tabatinga, a 1.500 km, na tríplice fronteira entre o Brasil, Colômbia e Peru, que também contribui para a logística reversa de embalagem de Cachaça 51.

No entanto, a logística reversa é apenas uma pequena dose do compromisso da Cia Müller de Bebidas com a questão socioambiental. Em todo o processo de produção, desde o plantio da cana, a empresa incorpora avançadas técnicas de reaproveitamento dos resíduos tanto agrícolas, quanto industriais, nos próprios processos produtivos, resultando em alto grau de autossuficiência e de baixo desperdício.

Tradicionalmente integrada em questões socioambientais, a Cia Müller também desenvolve vários projetos, para a preservação contínua do meio ambiente e uma gestão racional dos recursos naturais, como a utilização de biomassa na matriz energética, com, aproximadamente, 97% de geração de energia; eliminação da queima da palha da cana de açúcar, com investimento na colheita mecanizada, que já atinge 93% da produção de cana; aproveitamento integral dos resíduos da moagem de cana, como vinhaça e torta de filtro; na irrigação do solo e como insumos orgânicos no processo de fertilização das áreas plantadas de cana, e plantio de 122 mil árvores nativas, em projeto de reflorestamento para a recuperação de áreas degradadas.

Recentemente, foi feita a substituição do sistema de iluminação interna e externa, que resultou em uma redução de 65% do consumo de energia, com a melhora de 130% no nível de luminosidade. A gestão do uso racional da água nos processos industriais também tem relevância na gestão da empresa, tendo sido implementadas diversas ações de reaproveitamento e reúso de água, garantindo a redução expressiva no consumo desse recurso.

Para o presidente da Cia Müller de Bebidas, Ricardo Gonçalves, racionalizar, reduzir, reutilizar e reciclar representam mais do que uma boa ideia. São verbos que traduzem o compromisso da empresa com a utilização racional dos recursos, como água ou energia, por exemplo, a redução de resíduos em geral, que impactam o meio ambiente e, principalmente, a busca constante das melhores práticas ambientais. “Nesse sentido, a existência de uma legislação específica é positiva, porque reforça, ainda mais, o nosso compromisso com a sustentabilidade.”