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Profissional de logística é cobiçado pela indústria no Amazonas

Publicado em 25/03/2013

Infraestrutura precária valoriza especialista que reduz custos. Procura por esses profissionais deve dobrar nos próximos anos


As desvantagens enfrentadas com a falta de infraestrutura aeroportuária adequada e a distância do Amazonas dos centros consumidores tornaram o profissional de logística estratégico e muito valorizado no Polo Industrial de Manaus (PIM). Carentes no mercado, a procura por esses especialistas deve dobrar e o salário médio gira em torno de R$ 8 mil.

É pelo alto custo produtivo que essa profissão se torna tão cobiçada na indústria. O custo logístico representa 10% do preço final do produto, destaca o subcoordenador da Coordenadoria de Relações do Trabalho e Emprego (CRTE) e diretor da Masa da Amazônia, Ocimar Melloni.

Para mandar um produto final de Manaus para São Paulo leva-se em média 15 dias e o mesmo para trazer componentes para o PIM. Ele salienta que desses 10% depende a indústria e que essa economia ‘está nas mãos’ desses profissionais. “Não é só promissora, como é estratégica por causa das características regionais que temos, muitos rios, não temos estrada”, disse Melloni.

Por ser considerado um dos grandes gargalos do Brasil e do Amazonas, existe uma grande demanda nesta área. “Essa região é muito peculiar. A maioria das empresas do Sudeste não tem expertise no modal ideal para essa região, logo remete para profissionais que residem na região para orientação e aplicação de melhores práticas”, explica o consultor e especialista em Planner Delivery e Business Route, Samuel Araújo. Ele salienta que os profissionais da Logística ganham destaque e são bem remunerados porque o que mais agrega dentro de uma organização é a redução de custos.

Timóteo Maia tem apenas 29 anos e já ocupa o cargo de encarregado de Logística de uma das maiores fábricas do Polo Industrial, a Yamaha Motor da Amazônia. Natural de Manaus, ele é um dos casos de profissionais que, com especialização na área, rapidamente chegou a um posto de comando. Maia é formado em Logística Empresarial e tem MBA em Logística de Produção e Distribuição, além de possuir cursos técnicos em Tecnologia da Informação.

Há seis anos na Yamaha, ele analisa que a área evoluiu bastante e que ele mesmo tem a necessidade constante de se adaptar a novas condições. “Se você tem uma nova tendência de mercado, com certeza tem algo logístico sendo feito por trás. Se a tecnologia muda, a logística muda”, salienta.

Dia a dia

No dia a dia, Timóteo lida com os processos de importação e exportação de produtos finalizados e com o fluxo de abastecimento da indústria com matéria-prima. É comum para ele ter que planejar o transporte para abastecimento de materiais, a armazenagem de mercadorias e o trânsito dos produtos. Ele lida ainda com o processamento de pedidos para venda, informações para armazenamento de informações de estoque e tem que gerenciar a ‘rastreabilidade’ de todos os processos de maneira eficiente e de forma que traga uma certa economia.

Para Timóteo, o principal desafio é comandar todos os processos, cumprindo as metas com o menor custo e prazo possíveis. Os profissionais devem procurar soluções que resultem em um processo rápido, eficiente, mas que mantenha a qualidade e integridade que se objetiva chegar. “Aqui no PIM se exige muito mais porque precisamos vencer as barreiras geográficas. Usamos modais como rodofluvial, marítimo, aéreo e sofremos com uma estrutura aeroportuária que muitas vezes não suporta a capacidade e demanda que precisamos”, considera. Ele conta que o contato com colegas da área e a análise de casos de empresas do exterior sempre trazem novas ideias.

Ser flexível e estar aberto a mudanças é extremamente importante, sem deixar o planejamento feito de lado. “Se você fizer um bom planejamento vai ter um bom resultado. Se não fizer planejamento, vai ter qualquer resultado: um bom, péssimo”, destaca. Além disso, Maia observa que é preciso ter habilidade para resolver e contornar problemas. “Todo o dia existe um problema diferente”, brinca o encarregado.

Conhecer a legislação e os trâmites fiscais é outro ponto importante. Timóteo Maia conta que diariamente precisa fazer o ingresso ou saída de produtos na Zona Franca e por isso tem que dominar os quesitos fiscais envolvidos. Segundo ele, é uma parte primordial para o planejamento.

O profissional tem que estar ‘ligado’ o tempo todo. “Tenho que estar ligado em tudo a minha volta, porque tudo tem um prazo pra ser atendido. Tenho que receber a mercadoria tal hora, atender o relatório tal hora, entregar tal hora. É uma série de quesitos”, ressalta. Maia conta que é comum receber ligações urgentes durante a noite ou bem cedo pela manhã com algumas decisões a tomar. Por isso, Maia considera que o profissional deve ser disciplinado com as normas, procedimentos e principalmente com prazos.

“Meu desafio maior foi quebrar o meu paradigma que era a comunicação. Eu não gostava de cobrar, mas tive que melhorar. Tenho que cobrar a todo momento, todo mundo”, conta.

De todos os requisitos exigidos, Timóteo considera que o fato de saber planejar com economia é a característica que torna o profissional cobiçado. Segundo ele, as empresas se igualam em um certo momento tecnologicamente e em qualidade, mas precisam de um diferencial. “É preciso pensar porque eu produzo com dez dias e o meu concorrente com sete, se eu atraso na entrega”, observa.

Procura deve mais que  dobrar em cinco anos

A demanda por profissionais de Logística de nível Superior deve crescer 123% nos próximos cinco anos, aponta a pesquisa realizada pela CRTE. O levantamento foi feito com 34 empresas em parceria com a Associação Brasileira de Recursos Humanos no Amazonas (ABRH-AM), Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam) e Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam).

As empresas apontaram que a carência em preencher os cargos era, no total, de 13 vagas em 2012, quando foi feito o levantamento. Nos próximos cinco anos, a demanda subiria para 29.

“Isso mostra a dificuldade, a carência em preencher esses cargos com profissionais gabaritados. É grande atualmente e vai aumentar ainda mais nos próximos anos”, ressalta o subcoordenador da CRTE e diretor da Masa da Amazônia, Ocimar Melloni. A pesquisa indica ainda que 31% dos profissionais de nível Superior são de outros Estados. “Nossa gente não está aproveitando as oportunidades e as empresas têm que preencher com pessoas de fora do Amazonas”, salienta.

Samuel Araújo avalia que o mercado local possui bons profissionais e capazes de atender as necessidades das organizações, mas considera que o compromisso com a profissão é o que em certas ocasiões compromete. “Ele tem conhecimento, mas não está disposto a se dedicar por horas, feriados, finais de semana. E é nesta ocasião que algumas empresas optam por buscar profissionais de outras regiões do Brasil que tem um propósito”, analisa.

Timóteo Maia destaca que a maioria dos profissionais da área adquire as habilidades com o tempo de experiência e no trabalho. Segundo ele, o mercado enfrenta dificuldade em encontrar profissionais qualificados, mas considera que o cenário já começou a mudar. Ele conta que muitos colegas passaram a buscar a graduação e a pós-graduação para uma melhor qualificação.

Cresce especialização  e oferta de cursos no segmento

A falta de profissionais qualificados em Manaus tem feito com que esses trabalhadores comecem a buscar ferramentas de ensino para mudar o cenário. A necessidade foi observada não somente pelo profissional, como também pelas empresas do PIM.

A dificuldade também de dominar a legislação e os processos tributários de importação e exportação de insumos é o principal ponto que levou à criação do curso de MBA em Logística Industrial, que deve ser aberto em abril deste ano pela Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi).

“Estudos com a Federação das Indústrias mostraram que as empresas tinham muita dificuldade em encontrar profissionais na parte de logística. O grande problema é a formação específica na área. Existem profissionais que já atuam, mas tem o conhecimento do dia a dia porque executa as tarefas, não porque tem a teoria”, destaca o diretor acadêmico da Fucapi, Rodrigo Carlos Silva.

Ele salienta que as perdas de uma carga parada, seja por questão de infraestrutura ou questão tributária gera um prejuízo grande. É nesse ponto que as indústrias querem melhorar a estratégia do negócio.

Manaus já oferece cursos tecnólogos voltados à Logística, além de outros cursos de Engenharia e Administração com foco no assunto.

Para o coordenador dos cursos de Pós-graduação da Fucapi, William Malvezzi, o diferencial do novo MBA é tratar as peculiaridades da região. “Logística aqui não é logística em São Paulo, onde tenho vias para o resto do País. Aqui nós estamos isolados”, salienta Malvezzi.

É com esta especialização que o profissional mais qualificado ganha em média R$ 8 mil, salienta Rodrigo Carlos.

O consultor Samuel Araújo sugere que o profissional estude constantemente, buscando conhecer as modalidades de transportes e softwares.

“O profissional de maior competência tem seu destaque no mercado de trabalho, agregando valor não só na sua remuneração, mas principalmente a sua capacidade de garantir todo processo à empresa. Sabendo de todo seu potencial, os empresários têm visto forma estratégica à contratação deste profissional, com o retorno financeiro que este poderá retornar ao negócio”, afirma.